sexta-feira, 27 de maio de 2011

Mas Afinal o que as mulheres querem?



Por Helio Schwartsman

Pela teoria da neutralidade, meninos brincam com carrinhos e armas e meninas optam por bonecas apenas porque são estimulados por seus pais a fazê-lo. Hoje, sabemos que essas preferências são inatas e têm base biológica. Uma elegante prova disso é que chimpanzés selvagens machos também gostam de brincar com paus como se fossem clavas, já as fêmeas carregam os mesmos pedaços de pau para cima e para baixo como se fossem filhotes.
E a coisa vai muito além das escolhas de brinquedos. Após algumas décadas de pesquisas mais acuradas que as de Money, acumulam-se evidências de que as diferenças de gênero afetam também a cognição, as preferências e a própria noção de propósito da vida. Isso, evidentemente, tem implicações profundas sobre a educação, o mercado de trabalho --e o feminismo.
Parte da dificuldade está no tabu que ainda cerca o tema, mesmo nos meios acadêmicos. Vale lembrar que uma das razões para a demissão de Larry Summers da reitoria de Harvard, em 2006, foi ele ter sugerido que o baixo número de mulheres em certos ramos da ciência poderia dever-se a diferenças naturais entre os sexos.
Mas, gostemos ou não, hoje sabemos que os níveis de exposição pré-natal a hormônios sexuais afetam a forma como o cérebro de meninos e meninas se organiza. Algumas características tipicamente masculinas relevantes para a educação são a propensão a correr riscos, que abarca a agressividade e o gosto pela competição, e a facilidade para relacionar-se com objetos e sistemas. Já as meninas se destacam pela maior disciplina e a capacidade de empatia, que inclui o forte interesse por pessoas.
Nesses casos, as diferenças são marcantes. Pesquisa com crianças entre 10 e 23 meses mostrou que meninos contam histórias agressivas 87% do tempo, contra 17% de meninas. Entre 9 e 10 anos, garotos passam 50% de seu tempo livre em brincadeiras competitivas, contra apenas 1% das garotas.
Vale aqui o alerta de que esses achados são apenas médias, as quais dizem muito pouco a respeito de indivíduos reais. Lembre-se de que, na média, a humanidade tem um testículo e um seio.
Na educação, os números não dão margem a dúvida: os garotos estão perdendo feio para as garotas na performance educacional.
Ainda mais interessante, nos países hiperdesenvolvidos, onde elas gozam de maior liberdade para escolher, esse "gap" é maior do que nas nações em desenvolvimento, onde elas são muitas vezes obrigadas a exercer ofícios que não são os de seus sonhos. É isso que explica uma proporção maior de engenheiras na Turquia e na Bulgária do que na Dinamarca e na Suécia.
Só quem chegou perto do 50-50 foi a extinta União Soviética, e isso porque lá eram as profissões que escolhiam as pessoas e não o contrário.
Além disso, por operarem com múltiplos interesses, as mulheres não se prendem tanto à carreira. Trocam sem muita hesitação uma posição de comando para ficar mais tempo com a família. Essa é uma das razões por que muitas mulheres sacrificam trajetórias promissoras --e a perspectiva de chegar ao comando de empresas-- em favor de horários mais flexíveis. É esse desejo, mais do que a discriminação que explica a persistente diferença salarial entre homens e mulheres, pelo menos nos países desenvolvidos, onde já não se registram casos muito acintosos de preconceito.
Para Pinker, as mulheres seriam mais felizes se reconhecessem as diferenças biológicas entre os gêneros e parassem de tentar imitar os homens, buscando sem culpa o que realmente querem. É isso que ela propõe como o novo feminismo.

Folha.com - Hélio Schwartsman (Colunista)